sexta-feira, 13 de junho de 2008

Monólogo do Peixe



“Tive um peixe que um dia amanheceu, sem ter amanhecido...”.
Agora, vendo este aquário vazio, o aquário onde meu peixe ficava antes de morrer, é que entendo que ele morreu só... E entendo também o que é a solidão.
Quando meu peixe era vivo eu pensei em soltá-lo num rio limpo... Mas ele era tão pequeno, tão frágil, que eu percebi que se fizesse isso, ele iria viver uma realidade da qual não estava preparado.
Ele continuaria só.
Pelo menos aqui, ele tinha a mim, e eu...
Éramos dependentes um do outro e agora não somos nada.
O destino dos peixes é o mesmo destino dos homens. Ficarem presos nos seus mundos idealizados, esperando que alguém lhes dê um fim. Você se sente só, preso, mas depois de livre descobre que todos os outros são solitários como você, como eu, como as pessoas que vemos tentando fugir de seu destino... e elas partem, sentam-se num banco de ônibus qualquer e partem... Desistindo do mundo, enterrando suas lembranças junto ao pôr–do-sol para amanhecer no dia seguinte, talvez com um novo brilho.
Fui a um encontro, com uma pessoa que nunca apareceu... Fiquei por vários momentos pensando no que teria acontecido para gente se desencontrar... Dentro desses pensamentos observava as pessoas na rua. Observei-as passando com seus destinos ignorados, falando entre si, gesticulando, gritando. Tive a vontade de gritar com elas e pra elas, mostrar que eu existia, eu vivia. Pensei na sensação de um pássaro preso na gaiola, vendo o bando passar, livre... Eles cantavam, e o pássaro canta em resposta... Triste porque não pode voar.
Vamos soltar os pássaros, correr por aí e dizer enquanto é tempo “eu me importo com você, eu te amo”. Vamos cantar uma canção que nos lembra o quanto ainda podemos ser felizes. Vou mostrar para os outros que eu me importo, que eu não quero ser só, que eu tenho medo. Se não der, partirei... solitário...mas feliz por ter tentado.
Eu só sei viver pra ser feliz!
Quero o meu sossego.O domínio da minha vida de volta.
Fechar os meus olhos e sonhar.
Vou correr atrás do meu destino sem medo da solidão. A solidão é sozinha enquanto eu sou quem eu quiser.
Adeus
Meu peixe
Adeus

Eu vou ser feliz...


[Monólogo do Peixe - Texto de George Vilches, Duas Luas]

Um comentário:

Beto Uchôa disse...

É a solidão, entre tantas pessoas como ainda pode existir ?

Como se diz:

"Gatos são amigos de gatos, cães são amigos de cães e os homens são amigos de quem..."